Alta Roda nº 952/302 – 03 /08 /2017
Fernando Calmon |
Os carros autônomos chegam
ao nosso dia a dia e, cedo ou tarde, serão dominantes. Mas não haverá a
tecnologia dominante. Há tempos essa Coluna apontou que os gigantes da
teleinformática, em especial Google e Apple, acostumados a ganhar muito
dinheiro e a enfrentar riscos relativamente baixos, teriam desagradáveis
surpresas quando fizessem contas para produzir um veículo. Isso acabou se
confirmando e ambas desistiram.
Agora, se admite que nenhuma empresa conseguirá viabilizar sozinha um automóvel
autônomo. Fabricantes podem optar por se juntar à dupla do barulho, se associar
a outros fornecedores, desenvolver sua própria tecnologia ou uma combinação
dessas possibilidades. Por trás disso há uma mina de ouro: informações sobre
hábitos e preferência de quem utiliza o carro.
Importante conhecer os cinco níveis classificatórios de automação criados pela
SAE (Sociedade de Engenheiros Automobilísticos), dos EUA, aceitos
internacionalmente. No primeiro nível estão os controles eletrônicos usuais de
estabilidade e limitadores de velocidade. Depois, seguem os de velocidade de
cruzeiro adaptativo e de permanência na faixa de rolamento, mas neste caso o
motorista deve assumir o comando do volante a intervalos regulares.
Direção autônoma (ou semiautônoma, como a Coluna defende) aparece no terceiro
nível. O veículo segue o fluxo de trânsito sem intervenção do motorista.
Alemanha foi o primeiro país, em maio último, a autorizar seu uso, ao lado de
alguns estados americanos. A única restrição é sempre haver uma pessoa no banco
do condutor para assumir a direção, quando o sistema detectar que perdeu os
parâmetros de segurança. Já existem modelos importados à venda no Brasil com
estes recursos.
No quarto nível, a autonomia é completa, sem necessidade de um motorista atrás
do volante em ambientes controlados com boas rodovias e condições climáticas
favoráveis. Neste caso, ainda faltam soluções tecnológicas a custos razoáveis
que podem levar de cinco a dez anos. No quinto, ainda mais distante, sem
nenhuma restrição.
Em 2019 a lei alemã (nível três) será reanalisada. Porém, todos os veículos
deste tipo devem desde já ter gravador de dados semelhante à caixa preta dos
aviões para esclarecimentos em caso de acidente. Durante a condução autônoma o
condutor poderá utilizar equipamentos eletrônicos, telefone ou responder
mensagens. Ele não será multado, pois, em um país organizado, o automóvel
estará registrado como autônomo e eventuais multas, canceladas antes de sua
emissão. Se houver acidente o gravador indicará as circunstâncias e se
atribuirá culpa ao motorista, por mau uso do sistema, ou ao fabricante.
No Brasil, carros com esse tipo de equipamento receberão multas mesmo em modo
semiautônomo, salvo se houver um sopro de modernidade vindo do Contran, em
Brasília. É bom lembrar que os antigos navegadores portáteis chegaram a ser
proibidos aqui. Só se permitiam pictogramas (setas indicativas do percurso) no
painel. O ideal seria acompanhar de perto o que já se faz no exterior,
antevendo consequências da modernidade e diminuir a cultura de multar sem
preocupação de educar.
Mas, isso seria pedir demais...
RODA VIVA
MARCADO para agosto de 2018, segundo fonte da
Coluna, início de produção em Sorocaba (SP) da linha intermediária da Toyota
entre Etios e Corolla, nas versões hatch e sedã. Utilizará mesma arquitetura
modular da nova geração do Corolla, a estrear em 2019. Os dois produtos
inéditos chamam-se Yaris e Vios, no exterior, mas estes nomes não estão
confirmados aqui.
VOLKSWAGEN libera, aos poucos, pormenores da sexta
geração do Polo. Apresentação em setembro e vendas em outubro. Haverá ampla
diversificação de preço. Opcionalmente, quadro de instrumentos permitirá ver
mapa do percurso em tela cheia de 10 pol., sem partilhar velocímetro e
conta-giros. Motor turbo de 1 litro/3-cilindos terá potência aumentada para 128
cv (etanol).
EMBORA minivans estejam em queda de aceitação, a
francesa C4 Picasso de cinco lugares é um modelo elegante, com visibilidade
muito acima da média e interior supreendentemente bem resolvido. Em razão de
grande área envidraçada motor 1,6 turbo/165 cv sofre um pouco para lidar com
massa de 1.405 kg. Suspensões são algo ruidosas em piso irregular.
CROSSOVER mais do que SUV (à moda do Honda WR-V),
JAC T40 tem no preço, espaço interno e mecânica atualizada os maiores
atrativos. Versão inicial, completa, sai por R$ 58.990. Inclui câmera para
gravar o que acontece à frente do veículo, acessório-febre em países como
Rússia e China. Motor 1,5 litro/127 cv (etanol) garante boa agilidade para
1.125 kg de massa.
FINALMENTE, Google liberou o aplicativo de rotas
alternativas Waze para uso em telefones inteligentes dotados de Android Auto e
que podem sincronizar com sistema multimídia compatível. Car Play, da Apple,
está fora. Ainda há a limitação de uso de cabo, mas pelo menos carrega a
bateria do celular. Chevrolet Onix foi escolhido o carro parceiro do lançamento
no Brasil.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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