terça-feira, 22 de março de 2016

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez


PÓDIO AUSTRALIANO REFLETE MAIS DO QUE MOSTRA


Chuva na sexta, classificação com anticlímax no sábado, um acidente espetacular no domingo e um pódio com cara conhecida: dois pilotos da Mercedes e um da Ferrari ocupando os três degraus.  Este pode ser um bom resumo do GP da Austrália, a prova de abertura do Campeonato Mundial de F-1, mas o intervalo para a próxima etapa, dia 4 de abril, no Bahrein, esses tópicos terão companhia nas conversas de pista sobre a F-1: a competitividade das equipes do meio do pelotão, certamente, será assunto dos mais frequentes, em particular quando se falar de Felipe Massa e Felipe Nasr: os dois brasileiros estão, mais do que nunca, jogados à sorte de suas equipes.

Todo começo de temporada tem altas doses de interrogação, em particular a primeira etapa do ano; afinal, trata-se da primeira oportunidade dos carros andando em condições teoricamente iguais e, em princípio, dentro do regulamento. E nessas condições, mais uma vez viu-se Mercedes e Ferrari em um nível acima da concorrência: a primeira usufruindo da confiança e a tranquilidade que uma equipe que vem de duas temporadas dominantes pode ter e a segunda se esforçando para superar a rival.

Enquanto a Scuderia não rachar a aura do domínio alemão, seguirá demonstrando que sente a pressão cobrada por Sergio Marcchione — o bam-bam-bam da FCA, controladora da Ferrari —, e da sempre crítica imprensa italiana. A quebra do motor do carro de Kimi Räikkönnen e a saída de pista de Sebastian Vettel quando disputava o segundo lugar com Lewis Hamilton mostrou que falta pouco para se equiparar com os alemães. Falta pouco, mas ainda falta alguma coisa.

Casa de celebridades e celeiro de promessas, o grupo formado pelas equipes do touro com asas viveu o fim de semana de maneira intensa: Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat (da Red Bull), Carlos Sainz e Max Verstappen (Toro Rosso) estiveram sempre entre os mais rápidos dos treinos. Na corrida, porém, a sorte não foi tão equitativa: Ricciardo terminou em um bom quarto lugar, para alegria dos fãs locais, Daniil Kvyat não largou pelo segundo GP consecutivo, para sua própria decepção, e os garotos Carlos Sainz Jr. e Max Verstappen se estranharam mais uma vez, para a preocupação de Franz Tost, o chefe da equipe júnior.

O embate entre esses dois promete, especialmente quando o o holandês ataca de político brasileiro e cobra da equipe o que não quer que façam com ele. No ano passado Verstappen se recusou a deixar Sainz ultrapassá-lo, mesmo com ordens de equipe. Desta vez criticou o companheiro de equipe por ter ficado à sua frente, Sainz em nono, Verstappen em décimo. O alemão Nico Hulkenberg ficou em sétimo, à frente do finlandês Valteri Bottas, irreconhecível em uma performance tolhida pela falta de aderência de seu Williams FW38 e a perda de cinco posições no grid em consequência da troca do câmbio após a prova de classificação.

Surpresa das surpresas, a equipe Haas estreou nos pontos com um bom sexto lugar conquistado pelo franco-suíço Romain Grosjean. Os treinos da escuderia americana não foram exatamente um hambúrguer ao ponto, mas a performance de Grosjean na corrida teve sabor de uma boa torta de maçã, especialmente em função do ocorrido com seu companheiro de equipe, Estebán Gutiérrez. O mexicano iniciava sua 17a volta quando, ao chegar na curva 3, tentou corrigir um problema eletrônico que fazia o motor Ferrari do seu carro perder rendimento.

Esse problema teve efeito de frenagem antes da hora e acabou contribuindo para um cálculo errado de Fernando Alonso, que vinha atrás. O espanhol ainda tentou desviar mas o choque foi inevitável, o McLaren-Honda bateu no guardrail e ricocheteou para caixa de brita, onde capotou e foi parar na proteção de pneus, já bastante danificado. Ainda cambaleante, Alonso saiu do carro e, 24 horas depois, ainda sentia dores no joelho direito. Sem dúvida, os carros da F-1 estão cada vez mais seguros… O acidente forçou a interrupção e, novidade, os carros ficaram parados na frente de boxe, em vez de no grid.

Estava escrito nas nuvens?
Se a chuva que acompanhou os treinos de sexta-feira fosse interpretada sob uma ótica telúrica, o desfecho da prova de classificação do dia seguinte estaria mais do que conhecido: da mesma forma que nenhuma equipe pôde avaliar seu status em relação aos concorrentes por causa da pista molhada, no sábado ninguém entendeu como, faltando quatro minutos para terminar a prova de classificação, não havia mais ninguém na pista.

Em um verdadeiro anticlímax, o que foi concebido para aumentar o suspense na definição do grid de largada revelou-se um fiasco sem precedentes, mesmo que a Q1 e a Q2, as duas primeiras fases do último treino, tivessem mostrado maior movimentação que o normal.  O resumo da ópera é que tudo volta ao sistema antigo já na próxima corrida quando, espera-se, a disputa da pole position volte a ser interessante até o final da sessão.

Brasileiros
Apesar do desempenho razoável nos treinos e do quinto lugar na corrida, Felipe Massa não teve equipamento para confirmar a equipe Williams como a terceira força do grid. Nem ele, nem Valteri Bottas. Fala-se que um novo bico poderá ser usado na próxima corrida e, com isso, melhorar o desempenho dos carros brancos de Grove, algo que chegou a ser cogitado para estrear na Austrália. Quando se viu Massa andando junto de Lewis Hamilton ficou patente que o carro do inglês é bem mais equilibrado que o do brasileiro, nem falar da diferença de potência dos motores. Por essas e por outras, melhor pedir uma canja de galinha do que encarar um fish‘n’chips nesta altura do campeonato.

Felipe Nasr, por sua vez, parece numa situação ainda mais delicada: o Sauber C35-Ferrari ainda não foi desenvolvido o mínimo possível para dar ao piloto de Brasília e ao seu companheiro de equipe sueco as condições mínimas de disputar um lugar entre os dez que pontuam. Enquanto não chegar um reforço financeiro que permita à equipe de Hinwill trabalhar com mais serenidade, é melhor pensar em alternativas para 2017.
As demais

A volta da Renault como equipe oficial não foi tão auspiciosa como se poderia esperar: o arrojo de Kevin Magnussen foi esfriado por uma parada logo na primeira volta e o inglês Jolyon Palmer fez uma corrida burocrática para terminar como o melhor “new face” da abertura da temporada — ele terminou em décimo-primeiro lugar, exatamente à frente do dinamarquês. Pascal Wehrlein e Rio Haryanto, os dois estreantes inscritos pela equipe Manor, tiveram sorte diferente: o alemão preocupou-se em levar seu carro ao final da prova dentro do que lhe era possível e o indonésio abandonou no meio da corrida.
O resultado completo do GP da Austrália você vê clicando aqui.

Mais uma de Pipo Derani
O brasileiro Pipo Derani conseguiu sua segunda vitória consecutiva na disputa do IMSA WeatherTech SportsCar Championship, ao conquistar de maneira emocionante a 12 Horas de Sebring, segunda etapa desse torneio. Em uma prova marcada por mudanças climáticas que obrigaram até a paralisação da corrida por duas horas, Derani assumiu a ponta nos últimos 15 minutos da competição em que os cinco primeiros classificados cruzaram a linha de chegada separados por menos de 20 segundos e a diferença entre o segundo e o quarto colocados não passou de dois segundos.

Com esse resultado Derani ampliou a liderança na tabela de pontos, onde tem 72 pontos, contra 60 de Christian Fittipaldi, que terminou a prova em terceiro, mesma posição que ocupa no certame.  A temporada IMSA prossegue dia 16 de abril em Long Beach , mesmo final de semana que Derani disputará a abertura do Campeonato Mundial de Resistência (WEC) em Silverstone, na Inglaterra. O resultado completo da corrida você encontra aqui e a situação do campeonato aqui

Novo acidente fatal em provas regionais
O automobilismo regional perdeu mais um piloto no último fim de semana: o gaúcho Rommel Toscan faleceu em consequência de acidente na disputa da segunda etapa do Campeonato Gaúcho de Marcas e Pilotos. Foi o segundo óbito em provas da categoria em pouco mais de um mês: no dia 29 de fevereiro, durante a abertura do Campeonato Metropolitano de Automobilismo, no Autódromo Zilmar Beux, Marcos Mocelin e Cesar Chimin, bateram e o primeiro faleceu após permanecer em estado crítico por cerca de uma semana.

Tal qual sugeriu o experiente piloto Djalma Fogaça em postagem nas redes sociais, esta coluna acredita que a Confederação Brasileira de Automobilismo e suas federações filiadas deveriam aumentar as exigências de segurança para os carros da categoria, normalmente modelos de entrada e, não raro, já bastante usados. Ainda que a obrigatoriedade de gaiolas e santantônios mais reforçados e pesados diminua o rendimento dos automóveis, o preço da perda de desempenho será muito mais barato que o custo para aumentar a proteção dos pilotos.

WG

Nenhum comentário:

Postar um comentário