quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Fernando Calmon - Alta Roda

Alta Roda nº 864/214– 263– 0oda nº852/1108– 2oda nº851/2015

Fernando Calmon
A 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, realizada semana passada em Brasília, foi meritória por reunir experiências nesse tema tão complicado ao redor do mundo. Acima de tudo, ficaram registradas assimetrias por todos os lados dadas as diferenças culturais, de mentalidade e de desenvolvimento econômico entre os países.


O documento final, denominado de Projeto de Declaração de Brasília, é muito longo e burocrático. Só a introdução inclui 31 tópicos, seguidos por mais 30 itens de ações recomendadas para “fortalecer o gerenciamento de segurança no trânsito e aprimorar a legislação e a fiscalização”. Além do conteúdo repetitivo, algumas organizações internacionais, na ânsia de se destacar, forçaram sugestões difíceis de aceitar dentro do bom senso. Optaram por pecar pelo excesso e pintam um quadro ainda mais sinistro. 

Ninguém sabe ao certo quantas pessoas morrem em acidentes terrestres. Estatísticas são, de fato, precárias entre outras razões por exigir dinheiro e coordenação, raros em países pobres e até emergentes. O número em voga chega a 1,25 milhão de mortes/ano, porém o mundo tem 7 bilhões de pedestres permanentes ou eventuais, 1,2 bilhão de veículos motorizados de quatro ou mais rodas e bem além disso entre motocicletas e bicicletas. As distâncias percorridas são descomunais, mas quem leva em conta? Nos países desenvolvidos e de média força econômica os mortos registrados representam cerca de 120.000/ano (10% do total). 

O governo brasileiro anunciou, finalmente, sua adesão “em pouco tempo” ao protocolo WP.29, o Fórum Mundial para a Harmonização dos Regulamentos Veiculares, da ONU. Desde 1952 há tentativas, com maior ou menor sucesso, de coordenar os esforços de vários países em melhorar segurança veicular, emissões, eficiência energética e até dispositivos antifurto. O desastrado projeto de rastreadores no Brasil teria sido evitado sob o WP.29, fora outros desmandos. 

No entanto, a obrigatoriedade do sistema eletrônico de estabilidade (ESC, sigla em inglês) ainda está em “fase final de discussão”, segundo o ministério das Cidades. Previsão de anúncio para todos os automóveis é o final deste ano, com prazo até 2020. Perdeu-se, assim, a oportunidade de algum protagonismo do Brasil na conferência, pois dificilmente cumprirá a meta de redução pela metade do número de mortes, depois de o País ter aderido à Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, outra campanha da ONU. O ministério também acenou que iniciará, “em breve”, estudos para implantar algum sistema de frenagem autônoma. 

A organização Global NCAP lançou a iniciativa de âmbito mundial Stop the crash (em tradução livre, Basta de acidentes). Além do ESC e do ABS para motos, preconiza três níveis de frenagem emergencial a fim de evitar colisões em cidade e estrada, além de atropelamento em baixa velocidade (o mais comum). Cada acionamento automático de freio tem custo diferente, mas o conjunto deles ficaria mais barato de implantar, se houvesse adoção simultânea em muitos países. Também sugeriu sistema de monitoração da pressão de pneus, defendido por essa coluna por sua atraente relação custo-benefício. 

RODA VIVA 

APESAR de manter o nome Captur, o crossover médio-compacto que a Renault produzirá na fábrica paranaense nada tem a ver com o produto original, concorrente do Peugeot 2008, à exceção de sutis traços de estilo. Estrutura é o da família Logan/Sandero/Duster/Oroch e as dimen sões internas permitem até sete pessoas. Lançamento previsto para daqui a um ano. 

NOVEMBRO marca os 40 anos de criação do Proálcool, o pioneiro programa de combustível renovável que ajudou o País a atravessar o segundo e mais grave choque do petróleo nos anos 1980. Atualmente os EUA produzem mais etanol que o Brasil, mas no uso em motores flex continuamos bem à frente. Essa tecnologia é oferecida por 19 marcas e cobre 90% do mercado. 

NADA como a boa concorrência. EcoSport com motor de 1,6 litro mais potente (131 cv) e câmbio automatizado de duas embreagens, a preço competitivo na faixa do HR-V e do Renegade, pode ganhar fôlego até chegar a reestilização em 2016. Câmbio de seis marchas em algumas situações fica mais lento nas trocas, mas no geral o nível de conforto oferecido é bom. 

MECANISMO fiscal de substituição tributária do ICMS (uma aberração brasileira) até funciona em tempos de vendas boas para evitar sonegação. Mas, em situações extremamente difíceis como a atual, é um fator que segura descontos legítimos de preços. Afinal, não dá para recolher impostos sobre uma base alta fictícia imposta pelos Estados. Todos saem perdendo. 

MODISMO de estepe externo pendurado na tampa de modelos aventureiros e pseudoaventureiros está em paulatino recuo. Além do custo maior, estética discutível e eventuais danos a outros carros em manobras de estacionamento há ainda o peso extra de reforços estruturais e aerodinâmica prejudicada. Em tempos de economia de combustível é tudo o que não se quer. 


PERFIL

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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