terça-feira, 27 de outubro de 2015

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

…e teremos novos motores



Semana passada esta coluna focou em uma entrevista de Max Mosley e Bernie Ecclestone onde os dois falaram e louvaram sobre um fornecedor independente de motores de baixo custo. E não é que agora sabemos que em 2017 o regulamento terá um formato que possibilitará o uso de duas especificações de motores? O assunto explodiu ontem (segunda, 26) e encobriu a conquista do terceiro título de Lewis Hamilton, domingo, em uma corrida das mais interessantes da temporada.

Caro que sai caro muito caro
A maior fonte de renda da FOM (Formula One Management) e de seus controladores é a venda de publicidade e dos direitos de transmissão de TV. O que implica na produção de um espetáculo não apenas grandioso mas que também tenha doses de emoção para manter audiência que justifique os altos preços cobrados pelo produto chamado por uns de show biz, por outros de entertainment e para os fanáticos por automobilismo, de corridas de verdade, das boas.

O que se tem visto nas recentes temporadas, especialmente nas últimas duas, é um conto de suspense supostamente vendido em mais ou menos 50 capítulos — o número exato é o resultado de 300 km divididos pela extensão, em metros, da pista que se corre, arredondando para cima —, onde se descobre o culpado antes de se ler o prefácio. Em poucas palavras, um show pouco ou nada interessante, sinônimo de bilheteria das mais fracas… E aqui não há como deixar de falar nos efeitos colaterais, algo que afeta a saúde financeira dos cartolas de plantão e das próprias equipes.

No ambiente da F-1 contemporânea ocorre uma metamorfose onde os poderes há muito tempo constituídos dividem cada vez mais o poder com equipes cada vez mais distantes do modelo “garagista” que consolidou o modelo financeiro que fez dos Grandes Prêmios a categoria milionária que é hoje. Ocorre que o romantismo, o modus operandi e os interesses financeiros daqueles chefes de equipe perdem espaço para os executivos fiéis a grandes corporações e com uma formação que, se tem espaço para a paixão pelo automobilismo, tem espaço maior ainda para modernas técnicas de administração e quase nada para o romantismo de outras eras.

E assim é que para evitar que fonte seque, Max Mosley, Bernie Ecclestone e Jean Todt entraram em acordo e é dado como certo que o motor alternativo, de preço controlado, obedeça a um regulamento mais benevolente se comparado com as unidades híbridas de potência atualmente usadas. O preço máximo previsto é equivalente a um terço do que se gasta hoje, um mínimo de US$ 18 milhões por temporada. Mosley e Ecclestone sempre quiseram essa via, ao contrário de Todt. Os três se pronunciarem em acordo é algo que deve ser visto mais como um ato de sobrevivência digno da atual política brasileira do que uma atitude para preservar o esporte. Tanto lá quanto em Brasília, o que importa é garantir o caviar e o champagne de cada dia.

Champagne, por falar nesse hedonístico espumante feito normalmente a partir da mescla de uvas chardonnay, pinnot noir e pinnot meunier, foi algo que Lewis Hamilton consumiu no estilo típico de vencedores no último domingo. Lá em Austin, após dois de dias de muita chuva e pouco ou quase nenhum, treino, o inglês deu um chega prá lá em seu inimigo de equipe logo na primeira curva, liderou, perdeu posições e, quando parecia que a decisão título seria postergada por pelo menos uma semana, eis que Rosberg foi mais Nico do que nunca ao sair da pista quando liderava faltando nove voltas para o fim. Faltou pouco para que Sebastian Vettel aumentasse ainda sua frustração, pois chegou em terceiro lugar e se aproximava bastante do seu conterrâneo.

Não foi só Rosberg que decepcionou em grande estilo: a Williams novamente mostrou que ainda falta um ou dois dedos daqueles detalhes que fazem uma equipe competitiva se tornar uma equipe vencedora. Fora o toque que recebeu na primeira curva e uma imediata rodada, tanto Felipe Massa quanto o finlandês Valteri Bottas abandonaram com problemas na suspensão traseira. Coincidência ou não, é raro ver dois Mercedes, dois Ferrari ou dois Red Bull abandonar a mesma corrida por problemas mecânicos.

Já Felipe Nasr sobreviveu a uma largada sem praticamente ter treinado em Austin e mesmo com cinco paradas no box durante as 56 voltas da corrida, terminou em nono lugar e marcou dois pontos. Tanto quanto uma nova bandeirada que ele recebe na zona de pontos, o brasiliense ajudou a manter a Sauber à frente da McLaren, que viu Jenson Button pontuar pela segunda corrida consecutiva.

Maior rival de Nasr em seus tempos de GP2, o inglês Jolyon Palmer foi anunciado como o substituto de Romain Grosjean na equipe Lotus, em 2016. O filho do ex-piloto Jonathan é o primeiro novato a ser confirmado na F-1 para o ano que vem, situação que chama atenção para o futuro da equipe. A chegada de um inglês que ainda não disputou um GP sequer pode indicar que a Renault, caso efetivamente confirme a recompra da Lotus, deverá atuar discretamente em 2016 e concentrar seus esforços para a temporada de 2017, quando entrará em vigor o novo regulamento técnico.

Cascavel de Ouro
Enquanto o automobilismo paulista fica impedido de usar o autódromo de Interlagos — que segue liberado para eventos de música e outros —, os paranaenses deram uma excelente demonstração de dedicação e união com a realização da 9ª edição da Cascavel de Ouro, tradicional competição da cidade próxima a Foz do Iguaçu. Reunindo carros de turismo de baixa cilindrada e preparação limitada, a comunidade local promoveu de forma digna e eficiente uma festa no Autódromo Internacional Zilmar Beux que atraiu não apenas um bom público mas também pilotos de categorias topo do esporte. A vitória entre quase 40 carros ficou para a dupla formada por Natan e Ricardo Sperafico (Ford Ka) que após quatro horas de competição receberam a bandeirada 5”564 à frente do Celta de Edoli Caüs Júnior e Marlon Bastos.

WG

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