segunda-feira, 16 de junho de 2014

Fernando Calmon - REDE COLABORATIVA REDUZ PREJUÍZOS

Buracos e mais buracos. Essa parece ser a sina a evitar do brasileiro motorizado tal o número e variedade de obstáculos a superar dia após dia. Os gastos extras e mesmo prejuízos altos são fáceis de contabilizar, sem contar os ônus indiretos de reforços estruturais e de suspensões dos automóveis aqui produzidos. Pior é a profusão de vales (buracos, depressões) e picos (lombadas, tachões).

Para resistir a essa verdadeira prova de obstáculos, projeto e produção de veículos ficam mais caros. Há acréscimo de peso e menor eficiência energética. Frear e acelerar para conviver com a buraqueira gasta combustível, além de gerar poluição adicional. A distância livre do solo precisa ser aumentada, muda a área frontal, a aerodinâmica piora e a conta pesa no bolso.

Chuvas fortes, em razão de infiltração de água na pavimentação, podem de fato fazer surgir novas depressões no solo ou buracos se transformarem em crateras urbanas e rodoviárias. Tem a ver ainda com a qualidade da infraestrutura de preparação do solo e erros na execução dos serviços.

Algumas situações, porém, são inaceitáveis. Inaugurar asfaltamento novo e deixar bueiros ou tampas desniveladas geram sentimento de revolta. O jogo de empurra torna-se frequente entre quem fiscaliza a obra, os que a executam e os responsáveis pelo renivelamento. Ideal seria o uso, na grande maioria dos recapeamentos, de máquinas fresadoras. Elas raspam o pavimento e permitem reciclar o asfalto velho.

Como se enfrentam situações semelhantes no exterior? Invernos são rigorosos nos países do Hemisfério Norte. Há infiltração de umidade no pavimento, quando se joga sal para derreter as camadas espessas de neve. No verão, chuvas fortes. Então, buracos também causam dificuldades por lá. A (enorme) diferença é que as autoridades se preocupam bastante.

O Departamento de Transportes (DT) da Inglaterra, equivalente ao nosso ministério, planejou ações práticas. Procurou o Clube de Turismo de Ciclistas, quando soube que tinham desenvolvido um aplicativo para telefones inteligentes capaz de relatar a existência de buracos na pista. Bicicletas são ainda mais vulneráveis porque facilmente se desequilibram em superfícies irregulares. O ciclista corre grandes riscos de sofrer lesões sérias ao cair ou de morte, se for atropelado.

Celulares modernos com GPS permitem identificar a localização exata dos buracos e reportar diretamente aos conselhos municipais (prefeituras, no nosso caso). Com uma verba de 30.000 libras (R$ 127.000), o DT conseguiu expandir de 9 milhões para 26 milhões o número de telefones aptos a instalar o aplicativo, pois pôde acrescentar o sistema operacional Android.

Agora, não apenas ciclistas reportam situações de perigo. Motoristas se sentem estimulados em colaborar a fim de evitar danos potenciais aos veículos. Administradores das vias também se beneficiam ao saber com presteza informações que muitas vezes demoravam a chegar. Quanto menor a extensão dos estragos na pista, mais barato fica o conserto e, claro, poupa o dinheiro dos contribuintes. E lá o poder público indeniza de verdade pelos prejuízos.

Essa fórmula poderia ser útil também no Brasil. Programadores criativos de aplicativos de celulares existem. Resta saber se os administradores querem fazer parte da solução ou continuarão como fonte dos problemas.

PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:  www.twitter.com/fernandocalmon                                                                                                                               


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