quarta-feira, 23 de abril de 2014

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

Domínio da Mercedes pode fazer despencar audiência se Mundial for definido em tempo recorde. Motores novos no GP da Espanha, a próxima etapa, deve elevar o nível de desempenho e afetar desgaste de pneus


O domínio avassalador da Mercedes-Benz neste início de campeonato, quando a marca alemã somou cerca de 90% dos pontos possíveis (154 em 172) para uma equipe ameaça a popularidade da F-1 em um ano de grandes mudanças. Caso a supremacia de Nico Rosberg e Lewis Hamilton, respectivamente líder e vice-líder do campeonato, se mantenha inalterada, é bem provável que os títulos de pilotos e construtores sejam definidos na metade da temporada e faça despencar os índices de audiência da competição. Enquanto isso, na disputa do GP da China (cujo resultado completo você encontra aqui) Red Bull e Ferrari reagiram dentro do possível ao dampfwalze tedesco, cujos motores estão ligados a 71% do total de pontos marcados até agora, o que reforçou a lambança de uma cidade proibida…
Número frios mostram o caloroso domínio alemão
Uma análise fria e calculista dos resultados registrados nos quatro GPs disputados até agora — Austrália, Malásia, Bahrein e China —, mostra que dos 404 pontos marcados até agora nada menos de 154 foram conquistados por Nico Rosberg (79) e Lewis Hamilton (76) e 287 por pilotos cujos carros são impulsionados pelos V-6 financiados por Sttutgart e fabricados em Brixworth. Basta ver a tabela do campeonato de condutores, onde Nico Hulkenberg aparece em quarto, com 36 pontos, seguido por Valteri Bottas (7; 24), Jenson Button (8; 23), Kevin Magnussen (9; 20), Sérgio Pérez (10; 18) e Felipe Massa (11; 12). Entre os 11 construtores, os quatro ligados ao rolo compressor germânico, o tal dampfwalze, Mercedes (1; 154), Force India (3; 54), McLaren (5; 43) e Williams (6; 36) se destacam frente à Red Bull-Renault (2; 57), Ferrari (4; 52) e Toro Rosso-Renault (7; 8). Lotus-Renault, Sauber-Ferrari, Marussia-Ferrari e Caterham-Renault ainda não pontuaram.
Dito isso, há quem pondere que é possível mudar esse quadro em breve: o início da temporada européia — as próximas corridas serão em Barcelona (11/5) e Mônaco (25/11) —, geralmente trazem evoluções técnicas que corrigem defeitos. Por outro lado, não é raro que um ou outro projeto seja classificado como errado ou mal concebido e sele as chances dessa ou daquela equipe. É difícil não enxergar que os destaques deste balaio são Sauber, Marussia e Caterham. O peso exagerado do chassi C33 deixa os suíços em situação difícil, já que o motor Ferrari que o impulsiona já é reconhecidamente o mais apto a um regime de emagrecimento. Com relação às duas perenes figurantes, só mesmo uma prova com muitas desistências ou uma situação altamente improvável permitirá que ambas saiam do zero.
Equipe por equipe
Chega a ser surreal o destino da Mercedes-Benz na atual temporada de F-1: há anos os tedescos trabalham duro, investem o que é necessário, contratam o que há de bom e do melhor no mercado e ao colher os frutos dessa obstinação estão perto de descobrir que faltou uma pitada de açúcar na receita. Afinal, quem gosta de ver alguém dominar um esporte, ou qualquer outra atividade, com tamanha competência e absolutismo? Pior, se domínio afastar espectadores e leitores o investimento vai acabar ficando mais caro. Dentro do box a dúvida é saber se com motores com igual quilometragem — ao não disputar o GP da Austrália Hamilton tinha uma unidade de potência menos usada que a de Rosberg —, a superioridade do inglês sobre o alemão não será abalada.
Depois de uma temporada de treinos livres para esquecer, a Red Bull voltou a ter asas e deixou claro que o reinado de Sebastian Vettel está bem mais que simplesmente ameaçado. Seu companheiro de equipe, o australiano e sempre sorridente Daniel Ricciardo, parece tirar total proveito de sua maior estatura e ignora a alteza real que conquistou os últimos quatro títulos de pilotos. Em quatro provas disputadas este ano o piloto do RBR #3 ficou melhor classificado em três deles, incluindo a etapa de Melbourne, quando foi desclassificado do segundo lugar por problemas com o medidor do fluxo de combustível. Mais, tivesse obedecido às ordens de sua equipe e não atrapalhasse a recuperação de Daniel, Sebastian teria contribuído para uma boa disputa entre o australiano e o espanhol Fernando Alonso, que terminou em terceiro. Irônico mesmo foi ver o alemão sendo ultrapassado por um Caterham…
A Ferrari, sempre ligada a situações que remetem às obras de Fellini, Dante e outros monstros do gênero, usou o peso do seu V-6 atual para fazer marolas, levantar polêmicas e comentários e gerar linhas e fotos sobre sua tradição esportiva. Ao substituir um veterano das pistas por um executivo brilhante do mundo de vendas, a Scuderia foi mais fundo do que simplesmente trocar Stefano Domenicali por Marco Mattiacci: abriu espaço para quebrar paradigmas dentro da Gestão Esportiva (o departamento de competições da marca), e deixou no ar se esta substituição é para consumo imediato do estilo tapar buraco ou o início de uma nova página na administração da equipe. Cabe lembrar que nas últimas seis voltas da prova Ricciardo descontou nada menos que 2”50 de Alonso, média de 0”41 por volta, e cruzou a bandeirada exatos 1”2 atrás do espanhol. Detalhe que vai gerar discussões: um erro do diretor de prova encerrou a prova uma volta antes do previsto, o que significa que a classificação final foi a correspondente à da volta 54, posto que o regulamento diz que ao terminar antes do previsto o resultado oficial é o da volta precedente.
Falando em precedente, voltemos à Force India, terceira colocada entre os construtores, à frente da Ferrari. Nico Hulkenberg e Sérgio Pérez mostram consistência e regularidade e não se intimidam em ocupar posições que em outros tempos seriam exclusivas de equipes com orçamento vergonhosamente maior. Embora tenha perdido a vice-liderança para a Red Bull, o esquadrão de Vijay Mallya mantém-se entre a melhor dica de investimento na bolsa de apostas: Hulkenberg pontuou em todas as quatro provas até o momento e Pérez em três, incluindo o terceiro lugar no Bahrein. 
Tudo indica que no grid de 2014 a McLaren é a equipe que tem os carros mais susceptíveis às mudanças climáticas: nas temperaturas relativamente quentes de Melbourne e Sepang os carros de Jenson Button e Kevin Magnussen andaram entre os primeiros, mas na noite fria do Bahrein e na gélida tarde chinesa o chassi MP4-29 não produziu pressão aerodinâmica suficiente para aquecer os borrachudos de Bicocca ao mínimo necessário, sinal claro que a maior velocidade em linha reta desses carros era conseqüência do uso de menor inclinação das asas. Falando em pneus, espera-se que em Barcelona este item volte a influenciar mais os resultados: os carros deverão andar mais rápidos e o piso catalão é famoso por sua fome de borracha.
 O que acontece com a Williams?
Última das escuderia equipadas com a melhor unidade de potência do mercado, a Williams parece ter dificuldades em voltar a descobrir o caminho das pedras. Enquanto Felipe Massa tem se destacado por largadas fulminantes e Valteri Bottas deixou claro ser uma estrela em franca ascensão, a falta de sorte parece atrapalhar os planos de renascer das cinzas. Na China temeu-se que os dois pilotos fossem alijados da prova logo na primeira curva, quando Fernando Alonso não conseguiu evitar um emocionante rodas-com-rodas no carro do brasileiro, manobra que ao repercutir em Nico Rosberg, levou o alemão a tocar o carro do finlandês. Para piorar, o desempenho dos mecânicos na primeira parada de Massa mostrou falta de coordenação e estratégia para trabalhar no canto de suspensão mais afetado na batida com Alonso.
Filial da Red Bull, a Toro Rosso demonstra a constância que é permitida a operações mantidas para criar e desenvolve novos valores. Sem o orçamento de sua irmã maior, a equipe formada sobre a estrutura da saudosa MInardi explora a sinergia que o proprietário comum a ambas disponibiliza. Daniel Kvyat, com seus 18 anos, torna-se o primeiro russo a brilhar na F-1 e ajuda a garimpar outras novidades do seu país, como a banda de protesto liderada pela cantora Louna, grupo que você pode ouvir aqui. Enquanto isso, Jean-Eric Vergne tenta dançar a balalaika sem perder o ritmo, especialmente quando se nota que Kvyat pontuou em três provas e o francês marcou pontos em apenas uma.
Na Lotus, os destroços da crise financeira de 2013 ainda são chagas abertas, cuja recuperação poderá ocorrer graças à magia que o nome ainda impõe aos colaboradores que não desertaram o barco em meio à recente tempestade. Sauber, Marussia e Caterham mostram à equipe de Enstone que a situação poderia ser ainda pior, o que serve de alento para a recuperação que muitos esperam.
Bernie aponta substituta
Prestes a ser julgado na Alemanha, Bernie Ecclestone apontou a britânica Sacha Woodward Hill como sua substituta durante o período em que o processo movido por Gerhard Gribkowsky é analisado naquele país. Gribkowsky acusa Ecclestone de ter agido incorretamente ao vender as ações referentes ao controle comercial da F-1 ao grupo CVC em detrimento de sua oferta, supostamente melhor. O tribunal alemão destacado para julgar o caso se reúne a partir de quinta-feira. Woodward Hill, de 44 anos, trabalha com Ecclestone desde 1996.

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