terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Wagner Gonzalez em Conversa de pista


Wagner Gonzalez
Desde o ano passado muita água rolou em torno das represas que circundam Interlagos e que fazem conhecido locutor tupiniquim mencioná-las a cada transmissão do GP do Brasil. Se é líquido e certo que a pérola “eles não sabem, mas a chuva vem da rrrepreesa…” soará novamente em indefensáveis ouvidos de telespectadores, não se pode dizer o mesmo sobre a famigerada reforma no mais tradicional autódromo brasileiro. Já anunciada e garantida pela atual administração municipal, as alterações e atualizações necessárias para atender aos caprichos da F-1 parecem sofrer de descaso tanto quanto a população paulistana nesta fase de projetos macro – nas consequências caóticas que acarretam – e soluções micro, tais quais singelas pinturas de faixas a determinar espaço exclusivo para o transporte público.

O projeto anunciado pela Prefeitura e pela SPTuris em meados do ano passado anunciava a construção de novos boxes e padock ao longo da antiga reta oposta e atual retão, pouco antes da curva Chico Landi; informações oficiosas indicavam investimentos de aproximadamente R$400 milhões. A proposta agradou Bernie Ecclestone e um novo contrato para realizar o GP do Brasil por mais alguns anos, mas no País da Copa Padrão Fifa o valor foi reduzido à metade, o projeto alterado para uma reforma completa no padock atual e parte desse dinheiro já teria sido usado para as reformas necessárias à realzação do GP de 2013. Enquanto isso dirigentes paulistas tentam decifrar nas entrelinhas dos bastidores políticos detalhes de um cenário famigerado. Como a SPTuris é tacitamente entregue ao PSD (partido do antigo prefeito Gilberto Kassab), o rompimento deste com o sucessor Fernando Haddad (PT), criou uma situação onde todo o processo ficou parado. Consta que a SPTuris deverá ser encampada e substituída por uma nova secretaria municipal, provavelmente uma manobra onde o novo cargo criado garantirá apoio em palanques vindouros.

Entra recesso, acaba recesso, ninguém conseguiu se entender sobre a reforma e sobre os rumos da edilidade paulistana; somente hoje as autoridades municipais recomeçam a tratar do assunto. Quem conhece os secretos e, portanto talvez intrincados, meandros da política arrisca-se a dizer que uma definição sobre o início e abrangência das obras somente será conhecido só depois que o carnaval chegar… e partir. O máximo que se permite nesta segunda semana do ano é saber que até junho o automobilismo paulista terá seu principal autódromo disponível, fato corroborado pelo calendário de pista publicado no site da Federação de Automobilismo de São Paulo (www.faspnet.com.br): cinco etapas dias 19/1, 16/2. 16/3, 27/4  22/6. Depois disso apenas o GP do Brasil de F-1 (em novembro) e a final do certame brasileiro de stock car (dezembro). Para o presidente da FASP, José Aloisio Bastos, “esta situação impede qualquer planejamento mais detalhado”.

Apesar de tudo, o programa deste fim de semana mostra o potencial do esporte em Sâo Paulo e vai reunir provas das categorias Classic Cup, Força-Livre, F-3, F-Vee/F-1600, Históricos V8, Marcas e Pilotos, Speed 1600 e Turismo N. O maior grid é o que reúne os pequenos sedãs da Marcas e Pilotos. Por outro lado, a F-Vee passa por um momento de reestruturação: um racha entre seus participantes levou os dirigentes paulistas a aceitar uma divisão na classe, que atende por F-1600. Mais detalhes sobre a programação do fim de semana em Interlagos você encontra clicando aqui.

Entrada tardia da Honda já faz marola

O Renault RS 01, primeiro turbo da era moderna (Foto Renault)
Já faz algum tempo que a FIA homologou as mudanças para o regulamento da F-1 para 2014 e já faz quase tanto tempo que a Honda anunciou que retornaria à categoria em 2015. Arrancadas algumas páginas dos calendários, as marcas que vão disputar a temporada deste ano – Ferrari, Mercedes e Renault -, já  reclamam de possíveis vantagens que a marca nipônica poderá desfrutar graças ao seu desembarque tardio. Entre os que já deram conhecimento dessa causa está o italiano Stefano Domenicali, da Ferrari, que declarou ao jornalista belga Steven De Groote:

“Já conversamos com outros fabricantes de motores a respeito do assunto porém não há nada que possamos fazer. A Honda ainda não está inscrita oficialmente no Mundial de F-1 e alguma atitude restritiva poderia afetar outras marcar interessadas em entrar na categoria.”

 A preocupação de Domenicali tem fundamento e não seria a primeira vez que os pioneiros pagariam um preço alto. Quando, em 1977, a Renault pôs a cara para explorar a causa dos motores turbo do regulamento estabelecido em 1966 – motores aspirados de 3 litros ou turboalimentados de 1,5 litro – certamente os franceses foram surpreendidos pelos obstáculos encontrados no desenvolvimento da tecnologia que pudesse explorar com sucesso essa causa. Como os materiais eram submetidos a esforços e cargas muito acima das especificações que os fornecedores poderiam atender as quebras aconteceram em quantidade e em tempo muito além do esperado. Até mesmo a primeira vitória do “Yellow Tea Pot” (Chaleira Amarela, numa tradução liberal, apelido dado pelos ingleses ao modelo RS 01) passou despercebida frente ao épico duelo entre Gilles Villeneuve e René Arnoux pelo segundo lugar no GP da França de 1979, em Dijon Prenois. Após inúmeras trocas de posições (que você pode recordar clicando aqui) o canadense acabou como a mostarda do sanduíche: Jean-Pierre Jabouille venceu e Arnoux ficou em terceiro.

Aperte a tecla/opção “FF” para 35 anos mais tarde e muita gente que remou contra a Renault naquela época agora renega o que fez frente à Honda. Só que desta vez terão que engolir seco uma situação nada interessante e motivos nada saborosos: a partir de 28 de fevereiro a especificação dos atuais motores será congelada até a temporada do ano que vem. Isso permitirá que a Honda poderá desenvolver seus motores com base em informações adquiridas durante as corridas e nos encontros de fabricantes de motores com a FIA. Desta forma será possível resolver problemas que os rivais enfrentarão e, finalmente, começar 2015 com um motor já desenvolvido para os coletores de admissão de comprimento variável, certamente uma das poucas alterações a serem permitidas aos motores usados este ano. À praticidade de desenvolver o motor sem a mesma pressão que seus concorrentes os nipônicos também economizarão bastante ao desenvolver, de cara, a segunda geração dos novos motores turbo da F-1.

Ferrari de Froilán González vai a leilão

Quem teve a chance de passear por Modena nos idos de 1954 e passou pelos arredores de Modena teve boas chances de ver de perto um carro vermelho com a “matricola” (como os italianos chamam aquilo que nós nos referimos como “placa” ou, aqui em São Paulo, “chapa”) com a inscrição “Prova 0348 AM”. Esta identificação, típica dos carros de corrida de Enzo Ferrari, foi usada para identificar o chassi do carro usado por José Froilán González para vencer, em dupla com Maurice Trintignant, as 24 Horas de Le Mans daquele ano. O mesmo carro também foi usado por Umberto Maglioli para vencer a última edição da série clássica da Carrera Panamericana.

Pois bem, se você viu esse carro tem duas chances de ve-lo novamente e bem pertinho: uma por alguns minutos e outra até que a morte os separe. A casa Bohnam anunciou que vai oferecer esse carro ao melhor lance no leilão programado para o Festival de Goodwood deste ano, evento acontece entre 26 e 29 de junho; a sessão do martelo está marcada para o dia 27. Se você realmente pensa em fazer aquela loucura que sempre teve vontade e comprar uma importante peça da história do automobilismo mundial é bom preparar bolso, coração e dois talões de cheque: um para pagar garantir o lance mínimo estimado em U$ 15 milhões e outro para cobrir as ofertas de outros possíveis interessados. E é bom guardar uns trocados para fazer o seguro…

Loeb treinou na Argentina

Falando no “Touro dos Pampas” – apelido que Froilán González ganhou pelo estilo agressivo de pilotagem e por sua compleição física -, vale lembrar que o francês Sébastien Loeb passou os últimos dias treinando no circuito de Termas del Rio Hondo. Na melhor de suas voltas com um carro da categoria Top Race (algo semelhante aos carros usados na seunda divisão da Stock Car brasileira), Loeb marcou 2´3”; posteriormente sentou-se no Peugeot 308 de Facundo Chapur, da equipe oficial da marca na classe C da categoria Turismo Nacional, e a bordo deste veículo, cujo motor produz 273 HP melhorou seu tempo em quatro segundos neste traçado de 4.806 metros.Isto teria colocado Sébastien outros quatro segundos atrás do tempo da pole position de 2013 na rodada deste circuito, posição obtida por Juan Pipkin. O treino do francês nesta pista justifica-se porque o autódromo localizado na província de Santiago del Estero, cerca de 1.000 km a noroeste de Buenos Aires, receberá dia 3 de agosto uma etapa do Campeonato Mundial de Carros de Turismo, o WTCC. Ontem, Loeb seguiu para Sonoma, na Califórnia, onde segue com sua preparação para do programa que marca a estréia da Citroën na categoria.

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