segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Marchionne, salvador da Chrysler, que salva a Fiat



Pedro Kutney, AB
De Las Vegas, Estados Unidos

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Depois de quase ir à falência, em 2009, e ser entregue ao controle da Fiat, a Chrysler apresentou em 2011 o maior crescimento de vendas e participação de mercado nos Estados Unidos entre todos os fabricantes presentes no país, com avanço de 26% sobre 2010, assim conseguiu fechar o balanço do ano no azul, com lucro operacional de US$ 2 bilhões e 2 milhões de unidades vendidas em todo o mundo. Com esse resultado na mão e um discurso sofisticado, o presidente dos grupos Fiat e Chrysler, Sergio Marchionne (foto), foi recebido como salvador da pátria pelos concessionários americanos na abertura do congresso nacional do setor, realizado este ano em Las Vegas. 



“Esta cidade é famosa por suas mesas de jogo. E durante a recente recessão, muitos de vocês devem ter pensado se não seria melhor investir na roleta do que colocar dinheiro na decadente indústria automotiva. Com toda honestidade, sei que esse pensamento deve ter ocorrido com mais frequência para os concessionários Chrysler do que para os demais presentes nessa sala. Afinal, é muito difícil apostar em cachorro-morto”, disse Marchionne durante seu discurso no congresso da NADA, a associação dos distribuidores americanos. “Hoje, a julgar pelo que temos ouvido de muitos de vocês, as coisas estão bem melhores. Existe um sentimento de otimismo que cerca a indústria aqui que não vemos desde os anos 90”, completou o executivo. 

Não faltaram críticos à estratégia de Marchionne quando ele decidiu assumir o controle da Chrysler, uma espécie de fênix do setor que vive ressurgindo das cinzas a cada década. Mas se Marchionne ajudou a salvar a Chrysler mais uma vez, a ironia é que a aquisição de uma empresa recém-saída da concordata salvou o balanço do Grupo Fiat em 2011, que fecharia com prejuízo sem os ganhos nos Estados Unidos. 

Com seu jeito despojado, trajando o que a imprensa americana, com certa arrogância, já convencionou chamar de “surrado suéter”, barba por fazer e um tanto descabelado, foi com sofisticada erudição que Marchionne explicou a volta por cima da Chrysler, citando uma frase do filósofo francês Albert Camus: “Na profundeza do Inverno, eu finalmente aprendi que dentro de mim permanece um invencível Verão.”

Para Marchionne, a recessão dos últimos que quase quebrou os três grandes ícones da indústria automotiva americana (Ford, General Motors e Chrysler) serviu para tirar os fabricantes da “inação” alimentada pela “arrogância”. Nesse sentido, o executivo lembrou que por muitos anos o setor trabalhou destruindo seu futuro com estratégias equivocadas e acomodadas. “Nossas companhias deixaram de obter lucros do negócio de fabricar e vender carros, começaram a viver de atividades correlatas, como os financiamentos. Isso desviou a atenção de fazer automóveis que as pessoas querem comprar”, avaliou. 

“Sob a liderança do presidente Barak Obama, o país ganhou coragem para forçar a reestruturação da indústria, assegurando que as empresas que emergiram da concordata fossem capazes de assentar as fundações para construir um novo processo de crescimento e desenvolvimento.”

DE VOLTA AOS TRILHOS

“O renascimento da Chrysler foi possível porque cumprimos o compromisso de lançar 16 produtos novos ou remodelados em apenas 19 meses, com níveis de qualidade competitivos e e considerável suporte de marketing.” Marchionne garante que a Chrysler está em uma rota sustentável e, por isso, pode voltar a investir no seu futuro. 

O dirigente lembrou que nesta semana a empresa contratou 1,8 mil novos empregados na fábrica de Belvidere para trabalhar na linha de produção do Dodge Dart, projetado sobre a plataforma de um Alfa Romeo (uma das marcas do Grupo Fiat na Europa). Ele também disse que ainda este ano a planta de Detroit deve começar a produzir um utilitário esportivo com a marca Maserati. E no começo de 2013 Marchionne promete a fabricação do primeiro Alfa Romeo feito nos Estados Unidos. 

“Seja lá o que passamos nos últimos quatro anos, alguns de vocês no purgatório e alguns de nós no inferno, eu acho que pagamos nossa penitência. E as perspectivas para este ano são muito boas”, enfatizou Marchionne a mais de mil concessionários que o ouviam na convenção da NADA. Ele lembrou, no entanto, que “o sucesso nunca é permanente, precisa ser construído todos os dias”. A obsessão do executivo italiano, agora, é fazer com que ninguém esqueça desse preceito, para que os resultados positivos não sejam efêmeros.  

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